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domingo, 3 de abril de 2011

FELICIDADE DE NARCISO


Para curtir a idiotice até o fim dos tempos, faça da gozação, do pouco caso a quem gosta de você, seu carro-chefe do jeito de se relacionar...Sinta-se ‘liberto’ por não amar nem desejar demais, dono de si e esperto, acima de todas as coisas...Tenha laços desfeitos como conclusão de tudo o que faz e planta – aliás, arranque todas as plantas que crescerem, desavisadas, no seu jardim...Espelhe-se nos quartos vazios das almas ‘poderosas’... – poderosas e únicas, desérticas, isoladas...Feche boca e braços para beijos e abraços – economize, economize-se, recolha a pele macia e as sutilezas que os corpos podem ostentar, e devolva securas e asperezas aos carinhos dos outros. Espere que o mesmo encanto de Narciso lhe preencha todos os espaços, sem descanso, sem trégua..., como numa sala imensa de espelhos, multiplique a própria imagem refletida, labirinteando o caminho da vida, lotando-o de você, e só você...Aproveite a conquista egocêntrica, vencendo até quem já não existe mais ao seu lado..., não saiba a diferença entre estar só ou acompanhado..., misture-se aos objetos do mundo e desconheça o que é ser sujeito, sujeito de trocas e de sentimentos para além de si mesmo...No horizonte cabe de tudo. Ali o dia pode nascer, ou morrer.