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segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O TAMANHO ÚNICO QUE NÃO EXISTE




"Sempre acho que namoro, casamento, romance, têm começo, meio e fim" . (A. Jabor)
“O que Deus uniu, o homem não separa...” (texto usualmente proferido pelo padre ao casar um par de jovens na igreja católica).
Pelo tanto que essas duas frases possam parecer antagônicas, elas possuem, na verdade, estruturas extremamente semelhantes... Ambas revelam que, sejam mais tradicionais, sejam mais liberados, os seres humanos relutam em lidar com o futuro exatamente como ele é: desconhecido, propenso a surpreender, avesso às feições imutáveis do que quer que seja.

Parece que, terminando sempre, ou, por outro lado, durando obrigatoriamente toda a vida dos sujeitos envolvidos, é preciso saber, previamente, como é que as coisas são. É mais fácil viver sabendo que as relações vão acabar um dia, necessariamente, ou, para quem viva sob outro sistema de valores, que, uma vez selado o compromisso sob a autoridade ‘divina’, definido estará o caminho de uma relação, de uma vez por todas... Seja de um modo, seja de outro, o saber prévio deverá minorar nossas preocupações...

As pessoas buscam verdades estáveis para suas ansiedades. Todavia, todas essas falas categóricas demais significam, quando muito, que estamos tentando ‘planejar’ o futuro com os olhos no passado..., este que é o único tempo sobre o qual temos alguma certeza em nossas vidas...O futuro é mesmo futuro, ele não está aqui, ainda. Que pode acontecer a uma relação...? Ela pode acabar em um dia, um mês, um ano..., ou, impertinentemente, resolver durar toda uma vida...Nem Deus, nem Jabor, poderão fazer coisa alguma para conter a liberdade de ser que a Natureza sempre disseminou...

A Natureza é um exemplo magnífico, triunfal, de diversidade... É incrível como cabem facetas diferentes nesse útero multiplicador de seres que a Natureza exibe e opera...Inúmeros caminhos e possibilidades, inúmeros modos de ser e perceber o mundo, de fazer ou não fazer as coisas... Tanta diversidade é também bom motivo para grandes medos do desconhecido, de estar em situações em que se tem de assumir – eu não sei o que vai acontecer, não sei se vou ficar no meio do caminho, o que vou conseguir construir, ou o que talvez destrua...

Lidar com o presente como um momento que está tendo de ser criado a cada instante é a única forma de não abarrotarmos o futuro com pressupostos do passado. O passado é uma boa referência, mas não um modelo tácito de repetições inescapáveis...; apesar de acalmar nossas ansiedades, corre o risco de enfiar nossa liberdade numa jaula de pré-conceitos...

As fórmulas gerais não podem prever o que acontece com seres tão específicos quanto nós; muitas coisas acontecem, e muitas não, a cada indivíduo particular. O mundo é fecundo e plural – apesar de todas as definições prévias, idealizadas, com que tentamos construir alguma previsibilidade em nossas vidas, nós não podemos saber de resultados até que cheguemos concretamente a eles..., na prática.

Imagino que, no campo das relações – como, aliás, no campo de todos os grandes tópicos da vida humana – elas durem enquanto estiverem cumprindo sua função existencial para seus componentes. Enquanto houver um que fazer, há motivo, há produtividade numa relação; rindo ou chorando, com facilidade ou dor, a relação segue seu curso enquanto estiver cumprindo seu objetivo. Muitas vezes, não temos consciência de qual objetivo é esse; apenas sentimos um empurrão para seguir, ou um chacoalhão para parar. E, bem ou mal, é isso o que fazemos..., num ou noutro caso.

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