Páginas

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

RESPOSTA AO AMIGO ANÔNIMO


"Tudo é processo. Ainda bem, que o LULLA deu sequencia. (...) Agora, creditar a ELLLES tudo de bom que temos agora, é apagar a historia do Brasil. Não é justo!" (comentário anônimo à minha postagem Escribas da atualidade). 


Amigo Anônimo,

Em nenhuma linha de meu texto há qualquer crédito dedicado a quaisquer elllllles pelo “tudo de bom que temos agora” - sejam quem sejam esses ellllllles que você aventou referir. Não tenho vínculos com elllles ou aquellllles, tenho compromisso comigo e com meus princípios, e gosto de ver com olhos livres, como disse uma vez Oswald de Andrade. Não sou dada a exaltações heróicas de quem quer que seja porque não acredito realmente em heróis, salvadores de pátrias, agentes messiânicos de qualquer paragem ideológica – política ou religiosa... Isso porque, por trás de um ‘salvador’, sempre mora um narcisista... Penso que o mundo precisa mais de indivíduos emocionalmente adultos do que de parelhas de pais eternos de filhos que não crescem nunca. Do mesmo modo, não sou ‘devota’ de Fernando Henrique ou de Itamar Franco – e em nenhuma afirmação minha os coloquei em lugar de ‘ídolos prediletos’; ao ler meu texto, não é difícil perceber esse fato. A dedução afoita foi sua.

Como a História do Brasil ainda está registrada pela escrita, não é tão facilmente ‘deletável’ assim, caro amigo. Usando o método comparativo, que a Linguística me ensinou, além do gosto essencial que tenho pela leitura, não é difícil encontrar as letras de bons livros e artigos focados na matéria “Plano Real” – e lhe asseguro, as letras estão lá mesmo, nada ‘apagadas’...; varie as fontes (=autorias), use autores com um mínimo de consistência em sua formação, e você poderá driblar o risco de uma história (ou qualquer outro produto cultural) tornar-se inexoravelmente ‘apagada’...

Sem dúvida que ‘tudo é processo’. Nenhum fato, político ou não, despenca dos céus descolado de seu antes e de seu depois... Se você relembrar como se deu a construção do Canal do Panamá, saberá exatamente a que me estou referindo... Não neguei nenhum antes e nenhum depois do plano econômico oficialmente instituído em 1994; o plano Real teve uma fase de preparação planejada, em 1993, e não desconheço esse fato; por outro lado, não afirmei, nem vi afirmado, que Fernando Henrique e o Plano Real fossem gêmeos siameses... - não afirmei nada parecido. O elenco de nomes por você referidos é descritivo, sim, do processo de confecção do Plano Real, que, ora bolas, não começou com um fulminante grito de “Eureka!!” do famigerado Ministro da Fazenda de Itamar...! Eu sei bem que ‘processo é processo’ – mas estou me perguntando, de fato, se você, realmente, também sabe...

O que faz de um processo ‘processo’ é o encadeamento de suas fases, como os elos de uma corrente. Nenhum elo pode faltar. Esse foi o motivo de meu texto. Gosto de cada coisa no seu lugar. Se, como na peça teatral de Ionesco, uma comunidade começa a se transformar em rinocerontes, não vou fingir que nada de novo está acontecendo... Quando você tem olhos abertos e aceita não acreditar em Papai Noel algum, relaxe, porque a História não se apaga com tanta e ingênua facilidade...

Vania.



Nenhum comentário:

Postar um comentário